sábado, 14 de novembro de 2009

MEU ENCONTRO COM PABLO, Erick Henrique

Pablo era jovem, pacato e simples. Dono de uma vida normal, ainda não trabalhava; estudava, apenas. Nessa época, eu o conheci. Ele muito falava de mim a seus amigos, escrevia sobre mim e divulgava minhas historietas. Sempre nutriu uma quase-devoção por minha pessoa, mas, lógico, não queria chamar a atenção, não naquele momento.







Vários contos foram criados sobre mim. Como quando tive um encontro com certo psicólogo – afinal, também fico estressado, também sou filho de Deus. Não obstante, sempre falar e escrever sobre mim, Pablo nunca me vira pessoalmente.






Esperei-o no lugar por onde ele sempre passava. Eu o conheço e antecipo seus pensamentos como ninguém. Cheguei ao local, não esperei muito, logo ele estava lá. Olhou-me e ignorou-me, como se não me conhecesse – Pablo, conheces-me apenas nunca encontrou- se comigo. Então, chamei-o.






-Pablo!


Ele olhou e veio até mim.


-Como estás, velho amigo?


-Velho amigo? Quem é você? Qual seu nome?


-Chamam- me por vários nomes, mas podes chamar-me Lúcio, Lúcio Feras. Gosto de ti. E amiúde falas de mim. Gosto disto nas pessoas.


Nunca falei de você. Nunca nem vi você.


-Sempre estive contigo. Coloquei meus pensamentos em tua cabeça. Influenciei-te em várias decisões, ajudei-te a viver, e você em troca, contas minhas historias, até desenhos fizeste de mim, de meus discípulos – sempre soubeste de minha verídica face.


-Não é possível. Você não é... será?... prove!


Pablo, Pablo, não preciso provar, sabes que digo a verdade, embora dela não seja eu o pai.






O medo chamejou nos olhos de Pablo, sua face estava pálida. Então julguei melhor partir. Deixei apenas um leve odor de enxofre, uma de minhas marcas. Acho que não estava pronto para me ver. Quem sabe hoje, à meia-noite.